top of page

Toca da Corvina – Memória salobra no coração de Duque de Caxias

  • Cesar Moutinho
  • 1 de out.
  • 2 min de leitura
A cozinha é impecável e os peixes são sempre frescos, servidos com aquela combinação que respeita o mar e o apetite: arroz, pirão, salada e purê de batatas
A cozinha é impecável e os peixes são sempre frescos, servidos com aquela combinação que respeita o mar e o apetite: arroz, pirão, salada e purê de batatas

Por: Moreno Assumpção


Na Rua Itajubá, 183, no Itatiaia, existe um lugar que guarda o frescor do mar exatamente na cidade que parece tê-lo esquecido. A Toca da Corvina, pouco lembrada pelo grande público, é frequentadíssima há tempos por quem vive a boemia local. Na fachada, um bar simples; nos fundos, um ambiente climatizado especializado em peixes.


A cozinha é impecável e os peixes são sempre frescos, servidos com aquela combinação que respeita o mar e o apetite: arroz, pirão, salada e purê de batatas. Comi um namorado que veio assim, sem excessos nem invencionices. E como convém a esse tipo de comida, bastou isso para ser memorável.


O curioso é que, apesar de ser uma cidade cortada por rios e braços de Baía de Guanabara, Duque de Caxias parece ter virado as costas para o mar. Pouca gente se lembra, mas já houve praia por aqui. Ali, na região do Parque Beira-Mar (que não tem esse nome à toa), moradores pescavam, nadavam e até lavavam roupa nas águas da Baía de Guanabara, até que aterros e abandono fizeram esse litoral desaparecer do mapa da cidade. Restou apenas uma saudade quase muda do tempo em que a beira d’água fazia parte da rotina.


É nesse hiato entre memória e presente que a Toca da Corvina se inscreve, mesmo sem intenção. Porque quando se senta ali, diante de um prato de peixe bem-feito, algo daquela ligação com o mar ressurge — não como paisagem, mas como gesto. O restaurante não quer ser litorâneo, mas sem dúvida carrega algo da cozinha das marés: comida quente, precisa, feita com o que o dia ofereceu. O cardápio muda conforme a sazonalidade, o que garante ao freguês uma experiência sempre viva, instável como as marés que um dia lamberam o solo caxiense.


Na cidade onde o mar já esteve mais perto — e hoje parece tão distante —, lugares como a Toca da Corvina nos lembram que ainda dá pra encontrar sabor salgado na alma das coisas. Não é preciso ir à orla para comer peixe bom. Às vezes, basta atravessar o balcão certo.

Comentários


bottom of page