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Cesar Moutinho

Jornais impressos: circulação despenca 16,1% em 2022


Jornais impressos
Entre 15 publicações, 14 jornais impressos de grande circulação no país registraram queda


Foram 394.130 exemplares impressos por dia em 2022 frente a 469.940 em 2021. Na imagem, banca de jornais e revistas da rodoviária de Brasília


Levantamento do Poder360 com dados do IVC (Instituto Verificador de Comunicação) mostra que 15 dos principais jornais brasileiros registraram queda de 16,1%, em média, na circulação em 2022. A tiragem média diária somada dessas publicações terminou o ano passado em 394.130 exemplares.


A soma dos exemplares impressos de 2022 equivale a apenas 46,7% do total de 4 anos atrás, quando começava o governo de Jair Bolsonaro e a tiragem chegava a 843.231. Nas plataformas digitais, a compensação também foi menor do que a esperada (leia os dados aqui).


Assinaturas digitais crescem, mas ritmo é o menor desde 2018

Para Carlos Eduardo Lins da Silva, professor e pesquisador do Insper, o resultado negativo do impresso decorre da não adaptação dos jornais às novas formas de informação adotadas pela sociedade.


“As necessidades informativas da sociedade passaram a ser supridas com mais velocidade e praticidade por veículos eletrônicos que chegam ao consumidor por meio de seus telefones celulares e outros aparelhos móveis, com áudio, vídeo, interação”. Lins da Silva afirma que os veículos estão presos “à lógica de seus produtos impressos”.


O professor diz que as empresas “insistem em manter seu conteúdo como se não houvesse a concorrência dos que estão na internet, oferecendo notícias que a maioria absoluta das pessoas já obteve por outros meios”.


Segundo Bruno Souza Leal, professor de jornalismo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a crescente digitalização da sociedade, a difusão do acesso à internet e a ampliação da presença de empresas, instituições do Estado e organizações sociais no ambiente virtual também explicam a queda da circulação impressa de jornais: “O impresso perde capilaridade e presença, especialmente em camadas populares e mais jovens, que desenvolvem novos hábitos de consumo já inteiramente ‘nato–digitais‘”.


A maior queda foi da publicação mineira Super Notícia, que mudou a frequência de circulação em abril de 2022: o jornal, que era diário, passou a circular só às sextas. Sua circulação caiu de 66.665 exemplares até março para 48.215 (queda de 27,7%) no final de 2022.


Souza Leal afirma que o jornalismo popular e local –que é o caso do jornal mineiro– “é tradicionalmente mais acessível e capilar que os de circulação mais ampla”.


O professor da faculdade mineira diz também que os “jornalões”, de maior circulação, estão mais próximos de classes sociais mais abastadas e de “circuitos hegemônicos” de poder: “Sua força vem da tiragem e também de sua penetração nesses círculos populacionalmente menos densos. Além disso, os jornais populares, devido também à crise econômica, vêm perdendo espaço”. O Super Notícia é um exemplo, afirma Bruno.


Já entre os veículos de circulação diária, os maiores recuos foram de Folha de S.Paulo (-27,4%), O Popular (-26,0%) e O Tempo (-17,5%).


A Folha, que chegou 175.440 exemplares diários, em média, em 2015, despencou para 48.084. A retração foi de 72,6% em 7 anos.


Em números absolutos, o top 3 segue inalterado: O Globo, Estadão e Super Notícia são as publicações de maior circulação impressa no Brasil. O Globo fechou 2021 em 3º lugar, mas alcançou o topo no último ano. Motivo: caiu menos que os concorrentes.


O Estadão, que era líder, caiu para 2º.


As versões digitais dos jornais O Povo, Meia Hora e Diário do Pará não são auditadas pelo IVC. Por isso, os 3 só aparecem no infográfico de circulação impressa.


O infográfico abaixo mostra que a circulação impressa teve a 2ª pior queda percentual desde 2016. Só perdeu para 2020, 1º ano da pandemia, quando a retração foi de 25,6%.


Para Lins da Silva, há saídas para o jornalismo, mas fora dos moldes existentes: “Acho que há aumento de desinteresse das pessoas. As razões são múltiplas e passam por desilusões coletivas com política, economia, costumes culturais”.


Na avaliação do professor, haverá crescimento de veículos “partisans”, mas não no sentido político.


“Não necessariamente partidários, no sentido de alinhados a partidos políticos. […] Agora, jornais se alinham a causas como o combate ao aquecimento global, direitos de minorias, aumento da diversidade cultural”, afirma.


IMPRESSO + DIGITAL: VALORES


O Poder360 apurou que dos 15 jornais, apenas 2 oferecem plano de assinatura só para o impresso. Os demais (13) disponibilizam pacotes que incluem impresso e digital.


O combo mais caro é o da Zero Hora, que custa R$ 85,9 no 1º ano, mas vai para R$ 199,0 a partir do 2º.


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