Mussarela: Cachaça, memória e afeto em Duque de Caxias
- Cesar Moutinho
- 20 de jun.
- 3 min de leitura
Restaurante Mussarela: Um lugar onde a comida vem antes da foto. A casa que não se encontra por acaso, mas que se redescobre a cada visita

Por: Moreno Assumpção
Num trecho menos movimentado da Avenida Leonel de Moura Brizola, em São Bento, está o Restaurante e Cachaçaria Mussarela, um lugar que não precisa de filtro, nem de legenda criativa. Não se trata de restaurante secreto — porque todos os que frequentam sabem bem onde estão entrando. Mas sim de um lugar que, apesar de existir há décadas, ainda escapa ao radar da pressa e da estética plastificada das redes sociais.
Carlos Antônio dos Santos, o Mussarela, nasceu em Guarabira, no interior da Paraíba. Chegou a Duque de Caxias nos anos 90 e é o fundador do restaurante que carrega seu apelido e, de certa forma, também seu espírito. Alegre e conversador, Mussarela tem o hábito de circular entre as mesas, sugerir um prato, puxar papo e até dividir uma dose de cachaça com os clientes mais animados. E não qualquer cachaça: são mais de trezentos rótulos reunidos ao longo dos anos com olhar apurado e paladar sério. Não é raro vê-lo chegar a uma mesa segurando uma garrafa com um cuidado quase cerimonial, como quem compartilha algo de família.

Mas antes mesmo do brinde, quem comanda os bastidores da casa é Maria Lúcia, esposa de Mussarela e dona da cozinha. É ela quem prepara os pratos que fazem do restaurante uma referência nordestina no município. E isso não é pouco. O Nordeste tem papel fundamental na formação cultural de Duque de Caxias — tanto na música, quanto na religiosidade, nos costumes e, claro, na comida. Quem já sentou em uma mesa de fim de semana no Mussarela sabe bem: ali se cozinha com identidade.
Entre os pratos, impossível não mencionar o peito de boi com legumes (R$), cozido lentamente até atingir o ponto em que basta o toque do garfo para desfiar. Ou o torresmo (R$) — cortado fininho, crocante, leve, bem diferente daquele cubo pesado e oleoso que costuma aparecer por aí. A carne seca com aipim (R$), servida como entrada, é daquelas que pedem um pouco de silêncio na primeira garfada, só pra sentir melhor o sabor e o tempero. São receitas que funcionam como memória, ainda que a gente nunca tenha vivido aquilo.

A decoração do restaurante também conta uma história: parece saída direto de uma loja de antiguidades da Rua do Senado. Garrafas, quadros, objetos de ferro e madeira ocupam as paredes como num relicário popular. Há um cuidado caótico — tudo está onde deve estar, ainda que pareça ter sido deixado ali por acaso. É um espaço em que cada canto tem algo para contar.
Para além do cardápio fixo, o restaurante ainda promove, de tempos em tempos, um evento para os membros do Clube da Cachaça, cuja sede é lá mesmo, no restaurante. É um evento informal e saboroso em que, por um valor fixo, o freguês tem acesso à seleção especial de rótulos escolhida pelo "Mussa", além de petiscos feitos especialmente para a ocasião.
Mais do que um restaurante, o Mussarela é um ponto de encontro. Um desses lugares que resistem ao tempo e ao modismo, que não vivem de likes nem de hashtags. Um lugar onde a comida vem antes da foto. É o tipo de casa que não se encontra por acaso, mas que se redescobre a cada visita.
Restaurante e Cachaçaria Mussarela- Avenida Leonel de Moura Brizola, 8512 A – São Bento, Duque de Caxias- Informações e agenda de eventos no blog: (incluir tel e rede social).
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