Fernanda Farias
Na última quarta-feira, 31 de outubro de 2024, o Brasil vivenciou um marco histórico na luta por justiça com o início do julgamento do caso Marielle Franco e Anderson Gomes. Após seis anos de intensas investigações e mobilização popular, o julgamento ocorreu no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e foi realizado por meio do Júri Popular, um fato raro e de grande impacto em processos de tamanha repercussão nacional. Em respeito ao desejo de transparência e ao interesse público, a sessão foi transmitida ao vivo, permitindo que todos acompanhem e demonstrem apoio às famílias das vítimas.
A movimentação em torno do caso não se limita ao tribunal. O Instituto Marielle Franco organizou uma série de manifestações pelo país, intituladas “Amanheceres”, convidando apoiadores a se reunirem em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a partir das 7h da manhã. A mobilização nacional também se estende a outras localidades, com o incentivo para que os apoiadores organizem encontros em seus bairros e registrem a participação nas redes sociais utilizando as hashtags #JuriMarielleEAnderson e #JustiçaPorMarielleEAnderson.
Marielle Franco, vereadora e ativista dos direitos humanos, foi uma voz firme em defesa das comunidades periféricas, dos direitos das mulheres, da população negra e da comunidade LGBTQIA+. Sua trajetória e atuação a tornaram uma figura de referência, até ser brutalmente assassinada em março de 2018, ao lado de Anderson Gomes, seu motorista e companheiro de trabalho, em um caso que abalou o país e despertou uma onda de indignação e luta por justiça. Seis anos depois, o julgamento marca um passo importante na busca por respostas e responsabilizações em um crime que evidenciou o contexto de violência e impunidade que persiste em diversas esferas sociais.
Esse momento se configura como um símbolo da resistência e da exigência por um país mais justo, refletindo o sentimento de milhares que se mobilizam por causas de direitos humanos e igualdade. O caso, que se tornou um divisor de águas na conscientização social e política do Brasil, fortalece o apelo para que a justiça prevaleça. Para familiares, amigos, e apoiadores da luta de Marielle e Anderson, o julgamento representa não apenas a possibilidade de punição dos responsáveis, mas também o fortalecimento do compromisso social com a memória e o legado daqueles que ousaram lutar por um Brasil mais inclusivo e igualitário.
CONDENAÇÃO
Ronnie Lessa foi condenado a mais de 78 anos e Élcio Queiroz a 59 anos de prisão pelo assassinato de Marielle e de Anderson Gomes.
Lessa assumiu ter disparado contra a vereadora, alvo da ação, e contra o motorista dela, enquanto Queiroz confessou que era o condutor do Cobalt prata usado no ataque.
Após mais de 20 horas de julgamento, realizado na última quarta (31) e quinta-feira (01 de novembro), Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos e nove meses de reclusão e Élcio de Queiroz recebeu pena de 59 anos e oito meses de prisão. O júri considerou os réus culpados em todas as acusações a que respondiam: duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima), tentativa de homicídio contra a então assessora da vereadora, Fernanda Chaves, e receptação — no caso, do veículo usado pelos criminosos, um Cobalt prata clonado.
Os dois eram réus confessos do crime. Agora, o processo que investiga os possíveis mandantes do crime também se aproxima da conclusão no Supremo Tribunal Federal (STF), que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.
No STF são cinco réus: o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa, o policial militar Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-assessor do TCE Robson Calixto da Fonseca. Todos negam a participação no crime e se dizem inocentes.
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